segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ode à Alegria

(de Friedrich von Schiller, tradução do original, tal como se canta na nona sinfonia de Ludwig van Beethoven.)

(Barítono)

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!

(Barítonos, quarteto e coro)

Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha de Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Teus encantos unem novamente
O que o rigor da moda separou.
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu vôo suave.
A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se connosco!
Sim, também aquele que apenas uma alma,
possa chamar de sua sobre a Terra.
Mas quem nunca o tenha podido
Livre de seu pranto esta Aliança!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!

(Tenor solo e coro)

Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóboda celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória.

(Coro)

Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóboda estrelada
Deve morar o Pai Amado.
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscais além da abóboda estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

EU NUNCA SEI QUANDO AS ESTÓRIAS ACABAM. POR ISSO SEMPRE FICO PRESO ENTRE UMA E OUTRA, OU ENTRE NENHUMA E NENHUMA OUTRA; ENTRE UM RECOMEÇO SEM FIM E UM FIM SEM TÉRMINO. TALVEZ POR SER MAIS ESPECTADOR OU COADJUVANTE, DO QUE PROTAGONISTA DA MINHA VIDA, TENHA ESSA ENFERMIDADE DE NÃO DAR CONTA DE QUANDO BAIXA O PANO. AS LUZES APAGAM, O PÚBLICO SAI, OS COLEGAS LIMPAM A MAQUIAGEM E EU CONTINUO LÁ: COM A FALA NA CABEÇA, O TEXTO DECORADO, AGUARDANDO A DEIXA. A DEIXA QUE NUNCA VEM. SEMPRE TIVE MEDO DAS COISAS E DAS PESSOAS. UM PAVOR E UMA FALTA DE FÉ. TALVEZ POR ISSO EU TENHA CRIADO MINHA PRÓPRIA COMPANHIA TEATRAL, ONDE SOU DIRETOR; CONTRA-REGRA; ATORES E PÚBLICO. ENCENO SÓ PARA MIM UMA TRAGICOMÉDIA. A REALIDADE ME FAZ TÃO MAL E ME DEIXA TÃO FRACO QUE FICO, NO FUNDO DO PALCO, MUITAS VEZES, A SUSSURRAR O TEXTO A MIM MESMO. ÀS VEZES NÃO OUÇO. QUASE SEMPRE NÃO OUÇO, PORQUE SUSSURRO BAIXO E MINHA VOZ É TRÊMULA... O PÚBLICO NÃO ENTENDE A PEÇA, LOGO, NÃO APLAUDE. EU, FURIOSO, DEMITO A TODOS: AO AUTOR; AO DIRETOR; AOS ATORES... EXPULSO O PÚBLICO DO TEATRO E ATEIO FOGO A TUDO. E ALI DENTRO FICO EU, JUNTO ÀS CORTINAS E AOS HOLOFOTES, INCANDESCENTES; QUEIMANDO, QUEIMANDO, QUEIMANDO...

Sobre o autor:
Alejandro da Costa Carriles é um escritor carioca que reside na cidade de Petrópolis.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Acerca da filosofia diletante

O que é isto – a filosofia diletante?(5) O primeiro ponto que se nota quando alguém fala em filosofia diletante é que, por oposição, deve haver uma filosofia não diletante, uma filosofia séria. Levar-se à sério, nesse sentido, é obedecer aos cânones da academia. Se assim é, então talvez a tal filosofia diletante não mereça o tom pejorativo que normalmente carrega a expressão. Ora, não parece uma conseqüência necessária que dos moldes acadêmicos de se produzir “pensamento” resulte algo original ou ao menos algo “sério”. Mas antes, o que significa dizer que algo é sério?(1) Qual é o critério para determinar se algo é mais digno de respeito do que outro?(2) E para quê devemos respeitar a tradição?(3) Pois, se se entende por respeitar curvar-se diante daquilo que está pronto, talvez seja realmente preciso desrespeitar o “pensamento pensado”. Daí a velha pergunta que tanto incomodou e ainda incomoda: afinal, para quê filosofia?(4) Se a filosofia é apenas um modo de se conseguir um título, então parece que esta fórmula não apresenta nenhum problema. No entanto, se o objetivo do pensamento filosófico é oferecer uma prática que leve o homem a buscar respostas aos problemas insolúveis de sua existência – insolúveis sim, porque respondê-los é o que menos importa –, então, tal como Descartes, mas em sentido inverso, é preciso se desfazer do princípio de autoridade que a tradição representa para buscar uma filosofia que possa fazer sentido.